Assim falou Zaratustra: – Não posso, aqui, prescindir de uma psicologia da “fé”, do “crente”, em proveito, como é justo, dos próprios “crentes”. Se hoje há alguns que ainda não sabem quão indecente é ser “crente” – ou quanto isso indica decadência, falta de vontade de viver –, amanhã eles o saberão. Minha voz alcança até os surdos. – Parece-me que entre cristãos, se não compreendi mal, prevalece uma espécie de critério da verdade chamado “prova de força”. A fé beatifica: logo, é verdadeira”. – Poderia-se objetar que a beatitude não é demonstrada, mas apenas prometida: sustenta-se na “fé” enquanto condição – será beatificado porque crê... Mas e aquilo que o padre promete ao crente, aquele “além” transcendental – como isso pode ser demonstrado? – A “prova de força”, no fundo, não passa da crença de que os efeitos prometidos pela fé se realizarão. – Numa fórmula: “Creio que a fé beatifica – logo, ela é verdadeira”... Mas não podemos ir além disso. Esse “logo” já é o próprio absurdum transformado em critério da verdade. – Contudo, por cortesia, admitamos que a beatificação através da fé tenha sido demonstrada (– não meramente desejada, não meramente prometida pela suspeita boca de um padre): mesmo assim, poderia a beatitude – dito em forma técnica, o prazer – ser uma prova da verdade? Dista tanto de sê-lo que a influência das sensações de prazer sobre a resposta à questão “Que é a verdade?” praticamente constitui uma objeção à verdade, ou, em todo caso, é suficiente para torná-la altamente suspeita. A prova do “prazer” prova o “prazer” – nada mais; por que se deveria admitir que juízos verdadeiros geram mais prazer que os falsos e que, em conformidade a alguma harmonia preestabelecida, necessariamente trariam consigo sensações de prazer? – A experiência de todas as mentes profundas e disciplinadas ensina o contrário. O homem teve de lutar bravamente por cada migalha da verdade; teve de sacrificar quase tudo aquilo em que se agarra o coração humano, o amor humano, a confiança humana na vida. Para isso é necessário possuir grandeza de alma: o serviço da verdade é o mais duro dos serviços. – O que significa, então, a integridade intelectual?
Significa ser severo com seu próprio coração, desprezar os “belos sentimentos” e fazer de cada Sim e de cada Não uma questão de consciência! – A fé beatifica: logo, ela mente...
Significa ser severo com seu próprio coração, desprezar os “belos sentimentos” e fazer de cada Sim e de cada Não uma questão de consciência! – A fé beatifica: logo, ela mente...
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