terça-feira, 16 de outubro de 2012

Filmes, Livros e o Sentido da Vida

Hoje me peguei pensando sobre um filme que assisti recentemente: Mr Nobody. Ele conta a história do último homem mortal no planeta - já que no filme, que se passa no futuro, a tecnologia e a medicina estão tão avançados que ninguém mais morre. Fiquei fazendo esse exercício de imaginação, que na verdade nem parece tão difícil, já que vencer a morte não parece mais um objetivo assim tão distante e nebuloso quanto no passado.
E se não precisássemos mais morrer? Acredito que muitas pessoas achariam isso bom, mas não consigo imaginar como o poderia ser. O que faríamos com a vida se não fôssemos morrer? Talvez ficássemos num estado de torpor permanente: tudo poderia ser adiado e nada mais seria urgente. Seria possível sequer a existência da sociedade como a conhecemos?
Apesar do pano de fundo do filme ser essa comunidade global futurista sem morte, o filme se concentra nas escolhas pessoais do personagem principal: escolhas feitas e escolhas não feitas, sem nunca deixar claro qual é qual; uma espécie de Kwisatz Haderach ao contrário (quem estiver familizarizado com o Duna de Frank Herbert entenderá). E creio que entendo porquê. Sem a perspectiva da morte e do tempo que se perde para nunca mais voltar, que importância tem uma escolha? Tudo seria nulo e sem valor. Quem se importa se você escolher o pior caminho possível, se você sempre terá a eternidade para mudar e escolher outra coisa depois? 
Dar sentido à vida mortal já é difícil o suficiente; como seria então dar sentido a uma vida que nunca acabará? Seria isso até mesmo possível? Muito apropriada aqui seria a piada de Douglas Adams em seu Guia do Mochileiro das Galáxias: quando perguntado sobre o significado da vida, do universo e tudo o mais, o computador Deep Thought - na verdade o maior e melhor computador já construído - responde apenas: 42.
Nossas escolhas só tem importância porque não podemos voltar atrás. Talvez seja essa irreversibilidade mesma das escolhas que dê sentido à existência. Há dois filmes de que gosto bastante que ilustram esse dilema fundamental da vida de forma bastante apropriada e dramática.
O primeiro deles é Sete Vidas, do diretor Ben Thomas. No filme, um homem decide doar todos os seus órgãos para se redimir por erros do passado, mas se apaixona por uma das pessoas que receberia um deles. Qual a escolha certa? Se ele doar seus órgãos, como planejado, a mulher que ama viverá, mas ele estará morto. Se ele desistir da doação para estar com a amada, eventualmente é ela que morrerá.
O outro filme se chama A Fonte, de Darren Aronofsky. O filme é sobre um cientista que está pesquisando a cura (e está bem perto dela) de um tipo raro de câncer, que coincidentemente sua mulher possui. A mulher está conformada com a morte, e tenta passar todos os momentos possíveis com o cientista. Este, porém, está tão perto de descobrir a cura que acredita que conseguirá desenvolvê-la a tempo de salvar sua esposa. De novo, qual a resposta certa? Ele pode conseguir a cura, mas talvez não a tempo, e sua mulher morrerá, e ele não terá passado seus últimos momentos com ela. Ou ele pode aproveitar o tempo que resta com ela, mas sabendo que ela inevitavelmente estará morta em breve.
A vida é cheia desses doublebinds, e nunca há resposta certa. Toda decisão que tomamos está elegendo um caminho e destruindo inúmeros outros para sempre. Neste exato momento, enquanto escrevo, estou preso numa caixa de concreto, com um computador à minha frente cheio de números na tela. O dia lá fora está bonito. E estou aqui para que amanhã eu possa estar vivo. Mas será que faz algum sentido eu ficar aqui para poder sobreviver até amanhã, se amanhã estarei novamente aqui, somente para poder sobreviver até depois de amanhã? Não faria mais sentido "viver o dia" e morrer de fome amanhã?
Muitas vezes tenho a impressão de que a vida não passa de uma piada de mal gosto, e que, como diz o personagem do Al Pacino no Advogado do Diabo, deus está se mijando de rir de nós.

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